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Pessoa praticando jejum intermitente pela manhã, demonstrando como o corpo produz energia através da gliconeogênese

Você já se perguntou como seu corpo consegue manter os níveis de glicose no sangue mesmo quando não come carboidratos por horas? A resposta está em um processo metabólico fascinante chamado gliconeogênese – literalmente, a “criação de nova glicose”.

Esse mecanismo é uma das adaptações mais inteligentes do nosso organismo. Enquanto muitas pessoas acreditam que precisamos constantemente consumir açúcar para funcionar, a verdade é bem diferente. Nosso corpo possui uma “fábrica interna” capaz de produzir toda a glicose necessária a partir de outras fontes.

O Que É Gliconeogênese e Por Que Ela Acontece

A gliconeogênese é o processo pelo qual o fígado (e em menor grau, os rins e intestino) converte substâncias não-carboidratos em glicose. É como se o corpo tivesse um plano B sempre ativo para garantir que o cérebro e outros tecidos dependentes de glicose nunca fiquem sem combustível.

Esse processo se intensifica principalmente em três situações:

  • Durante o jejum prolongado – após 8-12 horas sem comer
  • Em dietas muito baixas em carboidratos – quando a ingestão fica abaixo de 50g por dia
  • Durante exercícios intensos e prolongados – quando as reservas de glicogênio se esgotam
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“Ferramentas para Monitorar Gliconeogênese”

O interessante é que a gliconeogênese não é um “modo de emergência”. Na verdade, ela funciona 24 horas por dia em níveis baixos, contribuindo com cerca de 25% da glicose que circula no seu sangue mesmo quando você come normalmente.

As Matérias-Primas: De Onde Vem a Nova Glicose

Aqui é onde a “mágica” realmente acontece. Seu corpo pode transformar várias substâncias em glicose:

Aminoácidos (Proteínas)

Esta é a principal fonte durante jejuns prolongados ou dietas low carb. O fígado pega aminoácidos da dieta ou, em casos extremos, do próprio tecido muscular, e os converte em glicose. Por isso é crucial manter uma ingestão adequada de proteínas em dietas restritivas em carboidratos.

Glicerol (das Gorduras)

Quando as células adiposas liberam gordura para energia, elas também liberam glicerol – a “espinha dorsal” das moléculas de gordura. Esse glicerol pode ser facilmente convertido em glicose pelo fígado.

Lactato

Durante exercícios intensos, os músculos produzem lactato. Em vez de ser apenas um “produto residual”, o lactato viaja até o fígado e é reciclado em glicose através do famoso Ciclo de Cori.

Gliconeogênese e o Metabolismo Low Carb

Para quem segue dietas baixas em carboidratos, entender a gliconeogênese é fundamental. Existe um mito comum de que “comer muita proteína te tira da cetose” porque ela vira açúcar. Isso não é bem assim.

A gliconeogênese é um processo controlado pela demanda, não pela oferta. Seu corpo produz apenas a glicose necessária para manter as funções vitais, independentemente de quanta proteína você consome. É como um termostato – ele mantém a temperatura estável, não importa quantas janelas você abra.

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“Ambiente Ideal para Flexibilidade Metabólica”

Na verdade, durante a adaptação à cetose, a gliconeogênese trabalha em harmonia com a produção de cetonas. Enquanto o cérebro se adapta a usar cetonas como combustível principal, a gliconeogênese garante que as células que realmente precisam de glicose (como glóbulos vermelhos) continuem funcionando perfeitamente.

Sinais de que Sua Gliconeogênese Está Ativa

Você pode não perceber, mas há alguns indicadores sutis de que esse processo está acontecendo:

  • Manutenção de energia estável mesmo em jejum
  • Glicemia normal pela manhã (mesmo sem comer carboidratos na noite anterior)
  • Capacidade de fazer exercícios em jejum sem “bonking”
  • Ausência de ânsias por doces após algumas semanas de low carb

Otimizando Seu Metabolismo Para Gliconeogênese Eficiente

Embora a gliconeogênese seja um processo natural, você pode apoiá-la com algumas estratégias inteligentes:

Mantenha Proteína Adequada

Consumir 1,2-1,6g de proteína por kg de peso corporal garante substrato suficiente sem sobrecarregar o processo. Proteínas de alta qualidade como ovos, carnes e peixes fornecem aminoácidos essenciais de forma eficiente.

Não Tema o Jejum Intermitente

Períodos controlados sem comer na verdade treinam sua gliconeogênese para ser mais eficiente. Comece gradualmente – talvez pulando o café da manhã uma ou duas vezes por semana.

Priorize o Sono

A gliconeogênese é regulada por hormônios como cortisol e hormônio do crescimento, que dependem de ciclos de sono saudáveis. Dormir mal pode desregular todo o processo.

Quando a Gliconeogênese Pode Ser Problemática

Embora seja um processo natural e essencial, a gliconeogênese excessiva pode indicar problemas. Em pessoas com diabetes tipo 2 ou resistência à insulina, o fígado pode produzir glicose em excesso, especialmente durante a madrugada (fenômeno do amanhecer).

Sinais de gliconeogênese desregulada incluem:

  • Glicemia alta pela manhã sem ter comido
  • Dificuldade para entrar em cetose mesmo com carboidratos muito baixos
  • Perda muscular excessiva durante dietas restritivas

Nesses casos, trabalhar com um profissional de saúde especializado em metabolismo pode ajudar a otimizar o processo.

A Gliconeogênese Como Aliada da Flexibilidade Metabólica

Longe de ser apenas um “plano de emergência”, a gliconeogênese é uma ferramenta poderosa para desenvolver flexibilidade metabólica – a capacidade do seu corpo de alternar eficientemente entre diferentes fontes de energia.

Pessoas com gliconeogênese bem regulada conseguem:

  • Manter energia estável ao longo do dia
  • Fazer jejuns sem desconforto
  • Ter melhor composição corporal
  • Maior resistência a flutuações na dieta

É como ter um motor híbrido no seu corpo – você pode usar a fonte de energia mais adequada para cada situação.

Integrando Conhecimento na Prática

Compreender a gliconeogênese muda completamente a perspectiva sobre nutrição e metabolismo. Você não precisa temer períodos sem carboidratos ou se preocupar obsessivamente com cada grama de proteína.

Seu corpo é incrivelmente adaptável. A gliconeogênese é prova de que evoluímos para ser resilientes, capazes de prosperar mesmo quando a comida não está sempre disponível.

O próximo passo? Experimente observar como seu corpo responde a diferentes padrões alimentares. Talvez um jejum intermitente ocasional, ou uma semana com carboidratos mais baixos. Escute os sinais do seu corpo e descubra como sua própria “fábrica de glicose” funciona na prática.

Pronto para explorar o potencial metabólico do seu corpo? Que tal começar com pequenos experimentos e descobrir como a gliconeogênese pode trabalhar a seu favor?

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